12-7-2006

 

Dell’Unione del Portogallo alla Corona di Castiglia, de Girolamo Franchi Conestaggio

 

O livro e a história do seu autor

 

 

1. O LIVRO

 

Em 1585, foi publicado em Génova um livro que descrevia em pormenor a tragédia por que recentemente (a batalha de Alcácer-Quibir e a morte de D. Sebastião fora em 4 de Agosto de 1578, a perda da independência em 1580) passara o povo português. A infelicidade nacional é contada em detalhe e com exactidão e isso não agradou a quem leu e percebeu tudo ou pelo menos alguma coisa. De facto, o livro era escrito em italiano e não haveria muitos que conhecessem como deve ser as peculiaridades daquela língua.

 

O livro foi um sucesso editorial por todo lado, menos em Portugal, onde nunca foi traduzido. Em Itália, contam-se 6 edições:

1.ª – Génova – 1585

2.ª – Génova – 1589

3.ª – Veneza – 1592

4.ª - Milão – 1616

5.ª – Veneza /Verona – 1642

6.ª – Florença – 1642

 

Outras 6 edições em França:

1.ª – Besançon – 1596

2.ª – Arras – 1600

3.ª – Besançon – 1601

4.ª - Arras – 1613

5.ª – Paris – 1660

6.ª – Paris – 1680

 

Uma tradução para Alemão

Por Albrecht Fürsten – München – 1598

Online: http://bibliotecadigital.fl.ul.pt/ULFL036882/ULFL036882_item1/

 

Uma tradução para inglês

Por Edward Blount – London – 1600

 

Duas edições em latim:

Frankfurt – 1602

Frankfurt – 1603, incluída no 2.º volume de  Hispaniae Illustratae seu rerum urbiumque Hispaniae, Lusitaniae, Aethiopiae et Indiae, scriptores varii - pags. 1062 a 1220 

 

Uma tradução para castelhano

Por Luís da Bavia – Barcelona – 1610.  (há, porém, manuscritos vários anteriores com traduções mais ou menos completas).

 

A importância do livro também se pode ver nos registos digitalizados online completos hoje existentes: nada menos do que três, nas Bibliotecas de S. Paulo,  Bizkaya e Paris:

 

1 – S. Paulo – Biblioteca de Obras Raras – Universidade de S. Paulo

http://www.obrasraras.usp.br/obras/000160

Impressão - Girolamo Bartoli –Génova - 1585

263 folhas – última página -  264a

 

2 – Biblioteca Bizkaya - Espanha

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search*spi/asilva/asilva/1,5,7,B/frameset&FF=asilva+joao+da+conde+de+portalegre&1,1,

No catálogo, é indicado como autor João da Silva, Conde de Portalegre

Impressão - Paulo Ugolino – Veneza – 1592

295 folhas – Última página – 295a

 

3 – BNF – Paris

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k936900

Impressão - Firenze – Stamperia di Amadore Massi e di Lorenzo Landi - 1642

373 páginas

 

O livro caiu mal em Portugal. Não se admitia que um comerciantezeco genovês que ganhava o seu pão na Alfândega de Lisboa como representante de Génova, se atrevesse a escrever a história das nossas desgraças. Ainda por cima, defendendo os pontos de vista castelhanos e os direitos de Filipe II a tomar conta do Reino.

No entanto, Conestaggio encetou o livro com alguma prudência. No prefácio da edição de 1585, apresenta-se com modéstia: “Bem sei que o ter abandonado os meus estudos não me ajudou a escrever esta História como ela merece; mas como eu não pretendo tirar dela nem honra nem proveito, nem dar-lhe outro prestígio que não seja a nobreza do assunto e o rigor da verdade, sobre esta me baseei, e investiguei-a com a maior diligência e sem ligar àqueles que, demasiado sensíveis, não querem ouvir nem um dos seus defeitos, entre mil louvores, pois estes devem saber que, não podendo a imperfeição humana chegar a possuir a virtude, são também menos credíveis, pelo contrário, são suspeitas de mentiras, aqueles louvores que são ditos sem uma mistura de reprovação.”

E no início do livro, a págs. 1-b da mesma edição: “… creio poder contar com pura verdade estes acontecimentos, porque estive presente na maior parte deles, e dos outros tive quem mos narrasse fielmente. Estou também liberto dos afectos que impedem aos escritores a liberdade de falar, uma vez que não sou natural de nenhum destes países, nem vassalo de Reis, nem de Príncipe algum”.

A págs. 7 da mesma edição, demonstra consideração pela nação Portuguesa e pelo seu povo: “É verdadeiramente digna de grande louvor esta nação, pois que, não tendo senão um pequenino e estéril Reino, com a boa instituição, com a parsimónia, e com a virtude de alguns dos seus Reis, não somente se igualou a todos os Reinos de Espanha; mas gloriosamente manteve durante muitos anos a guerra contra Castela, Reino mais rico e mais poderoso, o que não eram Portugal e os outros vizinhos. E a mesma e ainda maior virtude  mostrou longe de sua casa, tanto em África como na Índia, por ter levado a cabo uma tão estupenda navegação, que em princípio era considerada por homens sábios como temerária e doida, como por ter dado naquelas paragens nas armas uma tal prova de si mesmos,  que muitas das coisas consideram os escritores serem feitas por milagre, dada a desigualdade com que as empreendiam e nas batalhas marítimas e defesa das fortalezas, mostraram-se eles valorosos mais do que em outras coisas. Tanto assim que, para além de terem conquistado por tão amplo mar, um tão grande império, como dissemos acima, daí resultou um proveito ainda maior, que foi a extensão da religião Cristã em todos aqueles países,  de tal modo que Países inteiros que eram de gente idólatra, são agora obedientes à Sé Apostólica…..”

Estes trechos sensatos não foram, porém, suficientes para afastar a má impressão que o livro causou. E, para seu azar, Conestaggio tomou conhecimento da má recepção que o livro tivera nos meios intelectuais em Portugal. E tratou de passar ao ataque logo na 2.ª edição italiana, em 1589, com um prefácio incisivo.

 

Quem estudou muito bem todo este assunto, foi o Prof. Giacinto Manuppella (1901-1988), de quem traduzo e transcrevo, traduzindo, as citações que faz desse prefácio (as páginas são as do Java na edição de 1592): “

 

Estamos convencidos que as diatribes contra Conestaggio se teriam gradualmente esvaziado de toda a virulência, e a sua História tornar-se-ia com o tempo, objecto de mais atenta leitura  e de mais serena avaliação, se ele não se tivesse deixado levar pelo demónio da vingança e não tivesse inserido na segunda edição da sua História (1589), um Prólogo novo, de natureza polémica, que foi reproduzido em todas as edições e traduções que se seguiram; pungente e corrosivo, aqui e ali brilhante, ágil no contraste do contra-ataque, cavalheirescamente irónico e friamente agressivo. Franchi Conestaggio mostra agora uma face muito diferente da que lhe conhecíamos. Foi contra este Prólogo que se lançou Jerónimo de Mendonça e que irritou a sabe Deus quantos mais, mas é também verdade que ao Autor lhe puxaram o cabelo… Convém reler alguns trechos.

Começa por justificar a sua autodefesa: “Se a culpa se inferisse do facto de ser acusado, ninguém estaria inocente, por isso não deve auto-reprovar-se quem se defende, depois de ter sido assaltado. Gentil leitor, apenas saiu à luz a primeira impressão desta História de Portugal , que muitos (ávidos de conseguir glória à custa dos outros) me caluniaram asperamente acerca do livro, acusando-me de inimigo da nação Portuguesa em geral, e em particular censor rigoroso dos actos de personagens e ministros daquele Reino. E, embora quem descreve as coisas modernas no teatro de todo o Mundo, convém que suporte a maldade e a inépcia de muitos, já que é praticamente impossível satisfazer a todos; apesar de tudo, seria mais suportável, se alguns, contentes de morder-me injustamente, não se deixassem transportar pela paixão, para procurar que se impedisse a publicação deste livro em Espanha, onde já tinha sido aprovado pelos Inquisidores…” (Pág. 7).

 

A sua má sorte quis que empreendesse a descrição de acontecimentos demasiado recentes e escaldantes: “Convém antes de mais considerar que me tocou a sorte de descrever as coisas deste Reino que aconteceram nos quatro infelicíssimos anos que se seguiram ao de 1577, e que não é razoável que aqueles que dizem me ter eu disposto a desacreditar os Portugueses, façam a partir das características do tempo,  um juízo sinistro da inclinação do escritor, nem o considerem por isso parcial em relação à parte vencedora,  já que nas coisas de guerra só desajeitadamente se pode celebrar quem é derrotado; pelo contrário, quem sofreu ao ser vencido, deve ainda suportar que tal seja divulgado,  tolerando junto com a derrota a reprovação que dela deriva…” (Pág. 8)

  

Afirma que, quando as circunstâncias lhe ofereceram a oportunidade e o assunto, não deixou de exaltar o valor militar dos Portugueses: “Não há dúvida que, se me tivesse cabido escrever sobre as coisas desta nação, pelas quais se reconheceu quanto é apta para as armas e para magnânimos empreendimentos, como são as vitórias que teve contra os Castelhanos em Aljubarrota e em Trancoso, a conquista que fez dos lugares de África, as estupendas navegações e felizes progressos na Ásia, de que se faz também menção nesta História, quando a isso havia lugar, não teria sido mais verdadeiro do que aquilo que sou: mas seria sem dúvida escutado com mais boa vontade pelos Portugueses; porém, os homens de bom senso enfrentam com igual ânimo os ganhos, as perdas e as reprovações, e os louvores quando são verdadeiros… “ (Pág. 9)

 

Muitas duras críticas lhe foram também dirigidas porque a sua História não fora lida com a devida atenção e com um adequado conhecimento da língua italiana: “Depois, quanto às pessoas privadas do Reino, não têm razão para me imputarem ter falado deles com paixão e com imodéstia, e creio que eles mesmos o teriam reconhecido, se tivessem tido tempo de ler esta História com atenção e tivessem tido um conhecimento completo da língua Italiana…” (pág. 12).

 

Aludindo a ministros e poderosos personagens que gostam de ser adulados, afirma secamente: “… em vão se atormentam comigo, pois considero que a adulação em matéria de história é quase um pecado de idolatria”. (Pág. 13).

 

Declara que, ao referir os direitos dinásticos reivindicados pelos diversos pretendentes à sucessão, esforçou-se por ser tão completo e imparcial, de tal modo que não sabe o que teria podido acrescentar, e acaba por exclamar, num tom a que não falta uma leve ponta de ironia involuntária: “Ora, se todas estas coisas que por mim foram contadas com todo o pormenor não puderam fazer  que o Rei de Espanha não seja o parente mais velho, macho e legítimo, que D. Henrique deixou, que culpa tenho eu disso?” (Pág. 14)

 

E conclui, com uma consideração óbvia: “… creio que o que está dito baste a todo o juízo imparcial, para reconhecer a minha inocência, e a malícia ou ignorância dos meus adversários. Mas, para além disso, peço a todos os que sabem que não sou escritor inclinado para a mentira, que tenham em conta que escrevi em Italiano para Italianos, os quais não teriam podido compreender perfeitamente compreender o essencial da História se lhes tivesse dado menos detalhes do que aquilo que fiz em relação às pessoas que não conheciam. … Mas se tudo isto não chega para me justificar, faço Deus Juiz da sinceridade das minhas intenções e da neutralidade que rigorosamente conservei”. (Pág. 15). [G. Manuppella, 1957, págs. 228-230].

  

Aqui Conestaggio já não é humilde. Convencido da sua razão, dispara para todos os lados. A resposta não se fez esperar. O Padre Fernando de Góis Loureiro, na sua Breve Summa y Relación de las Vidas e Hechos de los Reyes de Portugal, um livrinho de 131 páginas, publicado em Mântua em 1596, ataca-o nas páginas 20, 69, 74. 75, 77, 82, 92 e 103. Seguem-se dois ex-combatentes de Alcácer-Quibir (Barbosa Machado), onde tinham ficado prisioneiros: Jerónimo de Mendonça , em 1607, com A Jornada de África, que tem pelo menos o mérito de descrever a batalha com conhecimento de causa; e Miguel Leitão de Andrade, com a sua Miscelânea, publicada em 1629. Os argumentos repetem-se e consistem essencialmente em dizer que o comerciante genovês era um intrometido, não tinha nada que se meter a escrever a história de Portugal.

Mas o livro teve mau acolhimento não só em Portugal como em Espanha. Talvez ali soubessem já que Conestaggio preparava outro livro sobre a guerra conduzida pelos Espanhois na Flandres, Delle guerre della Germania Inferiore. Parte prima. Veneza, A. Pinelli, 1614, 551p, cujo prefácio, porém, tem a data de 28 de Dezembro de 1910. Este livro causou ainda maior burburinho em Espanha, que o anterior em Portugal.  Luís Cabrera de Córdoba insere na sua vida de Filipe Segundo, um cerrado proémio de cinco páginas atacando Conestaggio (págs. 278 a 282). Seguiram-se-lhe Lope de Veja e Francisco Quevedo. Os argumentos são os mesmos que em Portugal e pouco ou nada têm a ver com a verdade histórica.

O pior ainda estava para vir. Em 1619, um tal Adriano Stopenro, nome certamente falso, publica, sem indicação de local, um livrinho com o título  Avertimenti sopra l'″Istoria delle guerre della Germania inferiore″, di Geronimo Conestaggio, fatti da Adriano Stopenro... tradotti dal francese in italiano per T... P... Quase de certeza, nunca existiu o tal original francês. No livro, o autor aceita de foi Conestaggo a escrever a História das Guerras da Flandres, mas diz que, na realidade, a História da União de Portugal a Castela não foi escrita por ele, mas que o texto lhe foi passado por D. João da Silva, 4.º Conde de Portalegre, personagem de que falaremos a seguir.

O pobre Conestaggio já não teve conhecimento desta aleivosia, pois deve ter falecido entre 1615 e 1617. Quando em 1619, lhe publicaram o seu livrinho de versos em Amsterdão, “Rime”, já ele era falecido.

Deve notar-se que é perfeitamente natural que Conestaggio e D. João da Silva fossem amigos. E também que D. Juan (era cidadão espanhol, embora filho de mãe portuguesa) fosse pessoa muito bem informada sobre os acontecimentos que o Conestaggio descreve. Embaixador do Rei de Castela junto de D. Sebastião, a Colección de documentos inéditos para la historia de España contém pelo menos 219 páginas de cartas dele, escritas a Filipe II e aos seus ministros a partir de Lisboa. Tendo acompanhado D. Sebastião na malograda expedição a Alcácer Quibir, ali ficou ferido e prisioneiro. Existem documentos manuscritos que estavam na posse de seu filho Diogo da Silva (5.º Conde de Portalegre) e que certamente se destinavam a eventual publicação de uma Crónica dos tempos de D. Sebastião: é o Códice n.º 887 da B.N., que contém cópias de documentos do reinado de D. Sebastião, na sua maior parte documentos oficiais expedidos ou recebidos pelo rei. Inclui ainda um relato de 22 págs. da reunião do Rei com seu tio Filipe II em Guadalupe com o título “Jornada que fez El-Rey D. Sebastião a Água de Lupe, composta por Rodrigo de Beça seu capelão”. Mas nada permite pensar que D. Juan da Silva tenha escrito textos que depois entregou a Conestaggio.

A má vontade contra este na Península Ibérica, porém, produziu os seus frutos e os bibliógrafos oitocentistas começaram a atribuir o livro a D. João da Silva. No dealbar do sec. XX, António Palau y Dulcet, em Espanha, e Brunet, em França, é isso mesmo que fazem.

O nosso melhor historiador sobre a época, o Prof. José Maria Queirós Veloso (1860-1952), autor da monografia D. Sebastião (1935 e 1945), que está em boa parte transcrita no vol. V da História de Portugal, dirigida por Damião Peres (História política, págs. 9 a 269), serve-nos para dirimir a questão: “… a opinião pública atribuiu logo essa obra a D. João da Silva, antigo embaixador de Filipe II junto de D. Sebastião, e 4.º Conde de Portalegre… Quanto a mim, não julgo D. João da Silva o autor do livro; mas é indubitável que foi ele quem forneceu a Conestaggio todas as informações relativas à organização e trágico desfecho da expedição a África. É isto, exactamente, que dá importância à obra.” (Págs. 316 do volume D. Sebastião, Lisboa, 1935). Aliás, o Prof. Queirós Veloso cita abundantemente Conestaggio neste seu livro.

Nem todos os comentadores foram assim tão violentos com Conestaggio. Por exemplo Fulgêncio Leitão, na sua obra Reduccion y restitución del Reyno de Portugal a la Sereníssima Casa de Bragança diz: “El segundo testimonio es de Geronimo Conestagio cavallero Ginoves, en el libro que estampò en lengua Italiana, de la unión de Portugal y Castilla en tiempo de Felipe Segundo, y si bien con evidencia se dexa ver de todo el que fu Autor es Castellano en el afecto, con todo no pudo, ò para decir mejor, no se atrevió à negar el valor, y esfuerzo Portugues.”

Também numa Crónica de Almansor, sultão de Marrocos (1578-1603), só recentemente (1997) publicada em versão bilingue português-francês, encontramos o seguinte comentário: “E depois… se fez a batalha de Alcácer, onde acabou el-rei D. Sebastião e os pretendentes Maluco e Mahamet, que Franque e Mendonça escrevem (com alguma paixão): Franque por querer falar livre especificando algumas particularidades dos portugueses com licença mal tomada de estrangeiro e livre para escrever mais largo do que era razão; e Mendonça mais colérico do que sofre a licença da história, por lhe parecer mui essencial a contradição ao atrevimento de Franque.”

Para se ter uma ideia do conteúdo do livro de Conestaggio, aqui fica a tradução dos sumários dos dez livros ou capítulos em que se divide:

 

INDICE

 

(As páginas indicadas são as do Java da edição de 1592, na Biblioteca Bizkaia)

 

Livro I- Pág. 41

 

Este livro contém a origem , e a descrição de Portugal, com as suas novas conquistas; a vida de El-Rei D. Sebastião; a primeira vez que ele foi a África; a conferência que tiveram o Rei Católico e o Rei de Portugal em Guadalupe; os preparativos de guerra em Lisboa para a campanha de África; a partida do Rei com a Armada e o Exército.

 

Livro II- Pág. 91

 

Este livro descreve a chegada do Rei de Portugal a África; a sua reflexão e resolução de desembarcar; o percurso do exército, os aparelhos de guerra de Molei Moluco; a qualidade e a disposição do seu exército; os acontecimentos do Alcazar; o percurso dos portugueses; a morte do Rei Sebastião e do Moluco; e a entronização do Rei Henrique.

 

Livro III- Pág. 147

 

Este livro descreve as gerações dos Reis de Portugal e dos pretendentes à sucessão; as deliberações do Rei Henrique e os pedidos do povo; a ida a Portugal do Duque de Ossuna e dos outros embaixadores católicos; a prisão do Duque de Alba; a carta do Rei Católico à cidade de Lisboa; a sentença do Rei Henrique contra António Prior do Crato sobre a sua legitimidade, em virtude de um breve do Papa; as razões do Rei Católico no Reino e contra cada um dos pretendentes; os preparativos para a guerra do Rei Católico contra Portugal; a suspensão do breve; a segunda sentença de Henrique contra António; a modificação da inclinação do Rei Henrique em relação às coisas da sucessão; e a oferta de mediação do Papa ao Rei Católico.

 

Livro IV- Pág. 221

 

Este livro contém as falas dos Castelhanos e dos Portugueses sobre as coisas do Reino; a peste, as cortes de Almeirim, a morte do Rei Henrique, e governo dos Governadores, os desígnios de António para se fazer coroar Rei, o testamento do Rei Henrique, as diligências do Rei Católico para decidir se podia em boa consciência desencadear a guerra, a eleição do Duque de Alba como capitão geral da campanha e os privilégios que oferecia o Rei Católico se lhe entregavam o Reino.

 

Livro V- Pág. 291

 

Este livro descreve a fortificação da Cabeça Seca, a confusão das coisas do Reino e dos Governadores; a resposta do Rei Católico aos Embaixadores de Portugal, as diligências do Rei Católico na Universidade de Alcalá sobre a entrada no Reino, as opiniões contraditórias se o Rei deveria integrar o Exército ou não, a conquista que fez de Elvas e de Olivença, a coroação de António como Rei, a fuga dos Governadores; a embaixada do Duque de Bragança ao Rei Filipe e a sua longa resposta, a tomada de Vila Viçosa, a entrada do exército em Portugal e como se rendeu Estremoz.

 

Livro VI- Pág. 368

 

Neste livro se descreve a conquista que fez o Rei Católico de Setúbal e da fortaleza; a chegada da sua Armada a esse lugar; as reflexões de António, a ida do Cardeal Riario como Núncio para Espanha; a passagem do exército de Setúbal para Cascais, a retirada de Diogo de Menezes com as gentes portuguesas, a confusão na cidade de Lisboa, a tomada de Cascais e da Roca, a morte de D. Diogo de Menezes, a ida de António com a sua gente para Belém e Alcântara, o perdão do Rei Filipe aos Portugueses para os puxar para o seu lado, as negociações de paz, como se rendeu a Rocha de S. Julião e se abandonou o forte da Cabeça Seca e se tomou a Torre de Belém.

 

Livro VII- Pág. 420

 

Neste livro se descreve o caminho de Alcântara; a tomada de Lisboa; o saque das localidades, os louvores e as críticas do Duque de Alba; a doença do Rei Católico; a ida de Sancho de Ávila à Comarca entre Douro e Minho contra António; a conquista das cidades de Aveiro e do Porto. A fuga de António; a tomada de Viana; e a morte da Rainha Ana. A ida do Rei a Elvas; a resolução dos habitantes das Ilhas Terceiras; e as ofertas do Papa para virar as armas contra a Inglaterra.

 

Livro VIII- Pág. 484

 

Neste livro descrevem-se as disputas dos soldados; a visita que o Rei Católico fez a Catarina, Duquesa de Bragança; a ida do Rei a Tomar; o perdão geral; as cortes em que o Rei prestou juramento, bem como o príncipe Diogo; os pedidos dos Estados; a entrada do Rei em Lisboa; o destino infeliz dos homens de Pedro Baldes na Ilha Terceira; a partida do Reino, de António e a sua chegada a França; a missão de Lope de Figueroa às Ilhas e o seu regresso sem que resultasse qualquer efeito; os preparativos dos ilhéus; o estado das coisas de França e da Flandres; como foram concedidas mercês pelo Rei a suplicantes; as opiniões de se fazer uma campanha militar nas ilhas; os preparativos de guerra do Rei Filipe e dos Franceses; a partida da Armada marítima para as ilhas, tanto da França como de Portugal.

 

Livro IX- Pág. 546

 

Este livro contem a descrição da Ilha de S. Miguel; a chegada ali da Armada Francesa; o desembarque dos Franceses; a escaramuça com os habitantes do lugar, a fuga dos Portugueses; a chegada da Armada Espanhola; a batalha naval; a morte de Filippo Strozzi; e do Conde de Vimioso; a ida de António à Ilha Terceira e o seu procedimento; a cruel sentença do Marquês contra as prisões, e a sua execução; a morte do Duque de m o seu elogio, as novas cortes onde prestou juramento o Príncipe Filipe, devido à morte do Príncipe Diogo; e como o Cardeal Arquiduque de Áustria foi nomeado Governador do Reino.

 

Livro X- Pág. 598

 

Neste livro se descreve a morte de Sancho de Ávila; o saque das Ilhas de Cabo Verde; o procedimento de Manuel da Silva, Governador das Ilhas Terceiras, os preparativos do Rei Filipe para conquistar essas Ilhas; as divergências acerca da campanha; a ajuda que veio de França; a fortificação, o presídio; a partida da Armada de Lisboa; a descrição da Ilha Terceira; a chegada ali da Armada Espanhola; o assalto, as escaramuças, e a tomada da Ilha; como se renderam os Franceses; a tomada da Ilha do Faial, e obediência de todas as outras Ilhas; como foi decapitado Manuel da Silva; e executada sentença de morte contra muitos outros; e o regresso da Armada a Andaluzia.

 

FIM – Pág. 632

 

 

2. O AUTOR

Girolamo de’ Franchi Conestaggio terá nascido em Génova por volta de 1528, teve mulher e filha cujo nome se desconhece e faleceu, como se disse acima, antes de 1619. Foi secretário do Cardeal Alessandro Sforza, sobrinho do Papa Paulo III, lugar de algum prestígio e que lhe terá permitido alguma formação escolar.

A certa altura, a República de Génova atribuiu-lhe uma representação comercial no estrangeiro, primeiro em Antuérpia e depois em Lisboa. Em Portugal deverá ter estado de 1577 a 1583 aproximadamente. Era uma espécie de adido comercial da República de Génova em Lisboa. Em 1590, aparece como Cônsul da República de Génova em Veneza.

O volumezinho das “Rime”, de 91 págs., publicado por um seu amigo e admirador  (Jacomo Nichetti) em Amsterdão em 1619, contém diversas poesias que falam da sua estadia em Portugal. E, ao contrário do que já se disse e escreveu, estes poemas nada têm a ver com D. Juan da Silva. São mesmo só de Conestaggio.

Note-se que o caso de Conestaggio e do seu livro sobre Portugal, fora já estudado por Giovanni Battista Spotorno, um historiador de literatura italiano que, no livro Storia Letteraria della Liguria, Tomo III, Tipografia Ponthenier, 1825, escreveu (tradução minha):” No fim de tudo, desagradou aos Portugueses a história de Portugal, desagradou aos Espanhóis a história da Flandres; porque os primeiros viam naquela, a pintura da sua decadência, e os segundos a descrição da sua desonra e da glória holandesa. Mas não é e nunca será prova de falsidade ou de baixeza o desgosto que sente o vencido ao ver narradas as suas derrotas e a sua humilhação.” (pág. 219).[G. Manuppella, 1984, pág. 116].

 

 

3. O PERSONAGEM

D. João da Silva nasceu em Toledo em 1528 e faleceu na mesma cidade em 1601. Foi filho de um nobre Espanhol e de uma Portuguesa. Serviu na Corte dos Reis de Espanha até ser nomeado Embaixador de Filipe II em Lisboa, como se disse.

Em Alcácer-Quibir, foi ferido num braço e ficou cativo. Quando Mulei Ahmede  soube, em Setembro de 1578, que D. João da Silva estava preso em Larache, ordenou logo a sua libertação, em atenção ao Rei Filipe II, de Espanha.

No princípio de Outubro do mesmo ano, D. João da Silva chega a Alcácer-Quibir. Em Ceuta, integra o préstito que acompanha o corpo de D. Sebastião. Em 24 de Dezembro, desembarca em Gibraltar, onde fica cerca de 15 dias. Partiu para Sevilha a fim de aí se curar. Trata-o o médico Alonso Rodriguez de Guevara, médico da corte, de quem D. João pedira a libertação para esse efeito. Mas o médico, em 10 de Janeiro de 1579, parte para Lisboa para o Paço onde se converteu em espião ao soldo de Cristóvão de Moura, informando-o fiel e permanentemente, da decadência física do Cardeal-Rei.

D. João da Silva parte em 19 de Fevereiro para Madrid por ordem de Filipe II, que o queria como Conselheiro sobre as coisas de Portugal. João da Silva bem desejava retomar o seu lugar de Embaixador em Lisboa, mas Cristóvão de Moura intrigara para conseguir o lugar. Quando Filipe II assume a Coroa de Portugal, é nomeado Mordomo-Mor do Reino e mais tarde integra o grupo de Conselheiros do Rei sobre Portugal.

Foi Conde de Portalegre, por ter casado em segundas núpcias dela com D. Filipa da Silva, 4.ª Condessa de Portalegre, por sucessão directa de seu avô, D. Álvaro da Silva.

Foi homem culto e digno, dotado de nobreza de carácter, tal como refere Barbosa Machado.

 

LINKS:

 

Ieronimo de Franchi Conestaggio, Relation des préparatifs faits pour surprendre Alger par Jeronimo Conestaggio ; trad. de l'italien et annotée par H.-D. de Grammont, Alger, Adolphe Jourdan, Libraire-Éditeur, 1882

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k291464

 

Luis Cabrera de Córdoba, Filipe Segundo, Rey de España, Madrid, Luis Sanchez, 1619

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search*baq/acabrera/acabrera/1,6,8,B/l962&FF=acabrera+de+cordoba+luis&2,,2,002873,-1

  

Gracián, Baltasar (S.I.), Obras de Lorenzo Gracian- tomo primero que contiene el Criticón, Barcelona : En la Imprenta de Maria Angela Martì, y Galì Viuda... 1757

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search*baq/tcriticon/tcriticon/1,3,6,B/l962&FF=tcriticon&2,,2,004208,-1

  

Fulgencio Leitão, Reduccion, y restitucion del Reyno de Portugal a la Serenissima Casa de Bragança en la real persona de D. Iuan IV... / por Iuan Baptista Moreli... Publicac En Turin : Por Iuannetin Pennoto, 1648

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search*spi/aleit{228}ao/aleitao/1%2C1%2C2%2CB/frameset&FF=aleitao+fulgencio&2%2C%2C2

  

Sebastián de Mesa, Jornada de Africa por el Rey Don Sebastian y vnion del Reyno de Portugal a la Corona de Castilla / autor el Maestro Sebastian de Mesa... En Barcelona : Por Pedro Lacaualleria, 1630

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search*baq/tiornada+de+africa/tiornada+de+africa/1,1,1,B/l962&FF=tiornada+de+africa&1,0,,002185,-1

  

HISPANIAE ILLUSTRATAE seu rerum urbiumque Hispaniae, Lusitaniae, Aethiopiae, et Indiae scriptores varii, partim editi nunc primum, partim aucti atque emendati. Tomis aliquot divisi. Opera et studio doctorum hominum. Francofurti, Apud Claudium Marmium et Haeredes Johannis Aubri.1603: 4 . vol. fol.

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/

 

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

1957 - Giacinto Manuppella, Jeronimo de Franchi Conestaggio, Gentilhuomo Genovese “a Dio spiacente ed a ‘nemici sui”, Sep. Miscelânea de Estudos em Honra do Prof. Hernâni Cidade, Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, n.º 1, 1957, 76 págs.

 

1984 - Giacinto Manuppella, A lenda negra de Jeronimo de Franchi Conestaggio e da sua “Unione del Regno di Portogallo alla corona di Castiglia” (Genova, 1585) Sep. Revista da Universidade de Coimbra, n.º 31, 1984, 100 págs.

 

1960 - Giacinto Manuppella, Um “inimigo” de Portugal: Jeronimo de Franchi Conestaggio e a sua História da união do reino de Portugal à coroa de Castela, no Boletim internacional de bibliografia luso-brasileira, vol. N.º 3, 1960, págs. 352-376, Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Diogo Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana, histórica, crítica e cronológica, na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes, e das obras, que compuserão desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo prezente.

Facsimile da ed. de Lisboa Occidental, Offic. de Antonio Isidoro da Fonseca, 1741-1759, Atlântida Editora, Coimbra, 1965-1967.

 

Inocêncio Francisco da Silva, Diccionario bibliographico portuguez : estudos applicaveis a Portugal e ao Brasil, Imprensa Nacional, 1858 - 1968

  

Rime del Sig. Ieronimo Conestaggio gentil huomo genovese, Amsterdam, por Giacomo di Pietro, 1619

 

Fernando de Gois Loureiro, Breve summa y relación de las vidas, y hechos de los Reyes de Portugal, y cosas succedidas en aquel Reyno, Mantua, por Francisco Osana, 1596.

 

Jornada d’el-Rei Dom Sebastião a África, pref. De Francisco de Sales Mascarenhas Loureito, Lisboa, INCM, 205 págs., 1978

 

Colección de documentos ineditos para la historia de España,  vol. 39, 40, 41 e 100.

 

Antonio Palau y Dulcet, Manual del librero hispano-americano: bibliografía general española e hispano-americana desde la invención de la imprenta hasta nuestros tiempos con el valor comercial de los impresos descritos, Barcelona, 28 volumes.

 

Frei Luis Nieto, Relación de las guerras de Berberia y del suceso y muerte del rey don Sebastian, Madrid, 1579, in Colección de documentos ineditos para la historia de España,  vol.100, págs. 419-456.

 

Crónica de Almançor, sultão de Marrocos (1578-1603), de António de Saldanha, estudo crítico, introdução e notas por António Dias Farinha, Lisboa, MCT, Instituto de Investigação Científica e Tropical, 1997, bilingue português-francês, 773 págs.

 

Joaquim Veríssimo Serrão, A historiografia portuguesa: doutrina e crítica, 3 vols. Lisboa, Verbo, 1972.

 

José Maria Queirós Veloso, D. Sebastião, 1554-1578, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 2.ª edição, 1945.

 

Damião Peres, História de Portugal, vol. V Portucalense Editora

 

Historia de las guerras de Flandres contra la de Geronimo de Franqui Conestaggio, escrita en frances por Pedro Matheo, em castellano por Pablo Martyr Rizo, Valencia, en la Impr. de Patricio Mey, 1627.

 

Jerónimo de Mendonça, A jornada de África: resposta a Jeronymo Franque e a outros, notícia do sucesso da batalha, do captiveiro e d’outras cousas dignas de menção, Porto, Imp. Recreativa do Instituto Escholar de S. Domingos, 1878, 296 págs. Cópia da edição de 1607.

 

Portugal cuidadoso e lastimado com a vida, e perda do Senhor Rey Dom Sebastião, pelo Padre Jozé Pereira Bayão, Lisboa Occidental, na officina de António de Sousa da Sylva, 1737, 784 págs.

 

Miguel Leitão de Andrade, Miscellanea do sitio de Nossa Senhora da Luz do Pedrógão Grande: aparecimento de sua santa imagem, fundação do seu Convento, e da Sé de Lisboa, com muitas curiosidades e poesias diversas. Lisboa, Matheus Pinheiro, 1629.

 

Luís Coelho de Barbuda, Por la fidelidad lusitana: apologya contra el Doctor Don Martin Carrillo, el Doctor António Cicçareli, y sus escriptos de Jerónimo Franqui, Lisboa, por Jorge Rodríguez, 1626.

 

Antonio Villacorta Baños-Garcia, D. Sebastião, Rei de Portugal, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2006, ISBN 989-626-016-8

 

Relações das cousas principais que sucederam em Portugal em tempo de el-Rey D. Sebastião – Manuscrito – Documentos de D. Diogo da Silva, 5.º Conde de Portalegre. – Códice n.º 887, da BN.

 

Avizos do céo, successos de Portugal, com as mais notaveis cousas que acontecerão desde a perda d'El-Rey D. Sebastão até o anno de 1627, escritas por Luiz de Torres de Lima - 1630. E agora novamente correctos, e emmendados  por Manoel Antonio Monteiro de Campos, na Officina de Manoel Antonio Monteiro, 2 vol. 1761.

 

Carta a hum abade da Beyra em resposta de outra, em que hum seu amigo lhe conta meudamente a jornada de el-Rey Dom Sebastiam, manuscrito inserido (págs. 85-157) no Cod. n.º  12896 da B.N. que tem o título "Desengano de sebastianistas". Foi reproduzido em "O Bibliophilo",  nos números de Julho e Agosto de 1849.