10-1-2001

 

O GÉNIO E A DEUSA

 

                                                                                                                            Helena Vasconcelos

 

Em 1988, a publicação de “NORA”, uma biografia da mulher de James Joyce, colocou a autora, Brenda Maddox, no centro das atenções. Contrariando a ideia generalizada de que “Miss Barnacle” não passava de uma “criada analfabeta” que nunca esteve à altura do seu genial companheiro, Maddox reabilitou a figura da mulher que influenciou de uma forma original e definitiva toda a vida e obra de Joyce.  Até Richard Ellmann, o autor da monumental biografia do escritor, que tinha começado por mostrar o seu cepticismo, acabou por se render à evidência e enviou palavras de encorajamento a Maddox, pouco antes de morrer, em 1987. Agora, passados 12 anos, “Nora” reaparece numa adaptação cinematográfica. O filme estreou há poucas semanas em Inglaterra, tendo sido recebido com um coro de críticas contraditórias. A própria autora do livro mostra-se confusa (“Já não sei bem como seriam os verdadeiros James e Nora”) e os mais puristas lamentam que haja “demasiadas cenas de cama” e se dê pouco ênfase à influência que Nora exerceu sobre a escrita de Joyce.

Zurich, 1918. Nora Barnacle Joyce with Giorgio and Lucia.

(From the Poetry/Rare Books Collection, University Libraries,
State University of New York at Buffalo.)

 No entanto, o filme segue os acontecimentos mais importantes da história destes dois seres excepcionais: a infância desgraçada de Nora, tipicamente irlandesa, as sovas que levava do tio, as bebedeiras do pai, a fuga da sua Galway natal para Dublin, o seu emprego no hotel Finn, a abordagem que Joyce lhe fez na rua, o primeiro encontro de ambos a 16 de Junho de 1904, a fuga para o Continente, o tempo em que viveram em Trieste, a pobreza e a fome que passaram nos diversos locais por onde andaram, (com Joyce a tentar ganhar algum dinheiro a dar aulas na Berlitz School), os filhos e os longos anos de dificuldades, a glória depois de “Ulisses”, até à ultima viagem que fizeram juntos à Irlanda, em 1912.

Quando Joyce se tornou célebre, Nora exclamou um dia, rindo: “Não faço ideia se o meu marido é um génio ou não, mas o que sei, de certeza, é que ele tem uma mente bem suja.” Talvez se recordasse das cartas que ele lhe escrevera de Dublin, no célebre ano de 1909, quando ela ficou em Trieste. Segundo Maddox, essas mensagens íntimas, “obscenas mas não eróticas, com uma imagética demasiado escatológica, pueril e repetitiva” são importantes pelo o que revelam da relação entre Nora e Jim ( só ela é que o podia tratar por este diminutivo) e da sexualidade de ambos. (Richard Ellmann acabou por editar e  publicar as famosas cartas, indo contra o desejo de Stephen, o neto do escritor).

Joyce viveu sempre obcecado pelo “mistério” que rodeava a sexualidade da mulher, oscilando tortuosamente entre considerá-la santa ou prostituta. Nora era uma bela mulher de vinte anos, que fazia virar as cabeças, quando Joyce a abordou na rua, não a largando enquanto não marcou um primeiro encontro, ao qual, aliás, ela não compareceu. Joyce tinha ficado encantado com o que viu e ouviu. Apesar de míope reparou que as ancas dela se moviam livremente sob o vestido, criando uma imagem de sensualidade assumida. Para além do aspecto físico, Nora era possuidora de uma belíssima voz e respondia com espírito e desenvoltura às investidas do jovem escritor. Joyce detestava as meninas da sociedade piedosa e hipócrita de Dublin que se mostravam fascinadas por ele, ao mesmo tempo que o temiam. Era considerado um selvagem  e nem todas as famílias bem pensantes gostavam de o receber, apesar de, já nessa altura, a sua genialidade ser do conhecimento público. Mas foi com Nora, com o seu riso contagiante e sem afectação, que Joyce se sentiu imediatamente à vontade. Ela era alguém muito  independente que sabia o que custava a vida e conhecia todos os perigos que corriam as mulheres sozinhas, numa cidade como Dublin. No dia 16 de Junho de 1904 ( uma data que se tornou aquela em que a acção de “Ulisses” tem lugar), saíram juntos pela primeira vez. Joyce não levou Nora para os cafés ou teatros do centro de Dublin. Passearam pelas ruas que vão dar ao cais e foram até a área de Ringsend que, à noite, estava deserta. A atracção entre ambos foi instantânea e Nora não perdeu tempo. Desabotoou as calças de Joyce e masturbou-o com mestria, “fazendo dele um homem”. Era a primeira vez que Joyce tinha sexo de graça e o facto revestiu-se de grande importância. Habituado à sensação provocada pelos complexos de culpa, que a educação nos jesuítas contribuíra para exacerbar,  ficou imediatamente fascinado com a franqueza e a desinibição de Nora. Em vez de “perder o respeito” por ela, como seria o caso se ele fosse um homem banal, apaixonou-se perdidamente. Anos mais tarde, a perícia dela nesse primeiro encontro, que fazia adivinhar uma experiência adquirida junto de outros homens, haveria de o torturar e provocar uma explosão de ciúmes, que levaram a uma crise muito séria. No início de “Ulisses”, a voz de Stephen Dedalus, o “alter-ego” de Joyce mistura-se com a de uma rapariga num tom de exigente e urgente desejo. “Touch me. Soft eyes. Soft, soft hand. I am lonely here. O, touch me soon, now. What is the word known to all men? I am quiet here, alone. Sad too. Touch, touch me.” Essa “palavra conhecida de todos os homens” e que Joyce/Dedalus não consegue pronunciar é a palavra amor. Porque, a partir dessa noite, quando Nora teve de voltar a correr para o trabalho no Finn Hotel, eles ficaram irremediavelmente ligados por um sentimento que iria durar para o resto das suas vidas.

Paris, 1924. The Joyce family: James, Nora, Giorgio and Lucia.

(From the Poetry/Rare Books Collection, University Libraries,
State University of New York at Buffalo.)

 

O namoro prosseguiu e, passados apenas três meses, ele persuadiu-a a fugir para Paris. Não lhe prometeu casamento ( só se casaram ao fim de 27 anos de vida em comum) nem lhe declarou amor eterno, nem utilizou nenhuma das manobras usuais. Partiram sem que ela se tivesse despedido fosse de quem fosse. Em Zurich tiveram a sua primeira noite juntos, um momento de êxtase e grande perturbação para Joyce, que ficou em dúvida se ela seria ou não virgem. Todos os detalhes foram passados para o papel e enviados em forma de carta para o irmão Stanislaus, o fiel depositário de todas as histórias Joyceanas. Em Trieste, Nora teve duas crianças em rápida sucessão, Georgio e Lucia. Pressionados por uma constante falta de dinheiro, com a família a crescer, empurrados de um alojamento para outro, não é de admirar que Joyce, preocupado em escrever, tenha pensado em abandonar Nora, quando Giorgio tinha apenas cinco meses. Mas, sem a mulher ele não era nada, como provam as cartas que trocaram de cada vez que estiveram separados. ( “Tu és o meu único amor. Estou completamente à tua mercê. SEI e SINTO que, se no futuro, escrever algo de belo e nobre, fá-lo-ei escutando o teu coração” carta de Joyce para Nora em 1909).

Joyce afirmava-se como um bom chefe de família e disse a Beckett que esta era o que ele mais amava no mundo. No entanto, impôs a todos uma vida errante e insegura, não mostrou grande preocupação pelo filho e negou sempre as dificuldades de Lucia, que era esquizofrénica e muito agarrada ao pai. O apartamento em Paris na Praça Roubiac, onde viveram entre 1925 e 1930, foi o lugar onde se instalaram por um período de tempo mais longo. Só depois de Sylvia Beach ter publicado “Ulisses”, em 1922, é que conheceram, finalmente, um certo desafogo e Nora teve a possibilidade de dar livre curso ao seu gosto pela moda. Nas fotografias dessa época, ela aparece muito elegante e definitivamente longe da imagem da jovem rebelde, que fugira da Irlanda e partira à aventura com um homem que mal conhecia.

Nora acompanhou Joyce em todas as provações, como mudança repetida de alojamento, pobreza extrema e até fome, controlou o seu alcoolismo, “suportou-o”, como ele próprio dizia, e exerceu a sua influência em todos os sentidos, mantendo sempre um sentido de humor picante e uma capacidade de dar respostas rápidas e incisivas, que o fascinavam. Não é de admirar que ele tenha utilizado a sua forma de falar em vários escritos, principalmente no célebre solilóquio de Molly Bloom, em Ulisses.  Nora, que não gostava da apropriação (“Não tenho nada a ver com esse mulher gorda e casada” ) disse sempre que não apreciava “Ulisses” mas sabia os poemas do marido de cor e gostava que ele lhe lesse partes de “Finnegans Wake”, um livro que nem o próprio Stanislaus, nem a benemérita Miss Weaver ( que sustentou o escritor durante anos), foram capazes de compreender. Em muitas coisas Nora e Jim eram semelhantes, rebeldes tanto no sexo como socialmente. (“Não existe nenhum ser humano que se tenha aproximado tanto da minha alma como tu, Nora Barnacle” escreveu Joyce). A ausência de sofisticação e de afectação de Nora atraíram Joyce mas a verdade mais profunda é que ela o protegia. Ele tinha medo de tudo, da solidão, das trovoadas, de brigas, de cães e Nora achava-o infantil, chamava-lhe o “seu Jim pobre de espírito”. Todas as testemunhas são unânimes em reconhecer a dependência de Joyce em relação à mulher: Nora era o “seu pedaço de Irlanda” no exílio, a sua companheira e amante. Não podia passar sem ela (podem-se contar pelos dedos de uma mão as vezes que se separaram) e alimentava ciúmes doentios de tal forma violentos que, quando ela foi à Irlanda sozinha, ele foi a correr pedir dinheiro emprestado para se lhe juntar.

Brenda Maddox chega ao ponto de estruturar a história de Nora a partir de quatro personagens-chave da obra de Joyce: Lily, de “The Dead”, refere-se à sua juventude, às suas recordações e à vida sozinha até conhecer Joyce; Bertha, personagem de “Exiles” está ligada à vida errante, desde Trieste até à ida para Zurique, em plena Guerra Mundial (1915): Molly, de “Ulisses” é a época do apogeu, da plenitude, da maturidade até chegar a Anna Livia, de “Finnegans Wake”, que começa em 1932, coincide com o agravamento do estado de saúde de Lucia e acompanha Nora até ao declínio.

Nora está em toda a obra como uma presença obsessiva, cuja voz, irónica, surpreendente, poderosa, fornecia ao “no-sense” de Joyce o contraponto do “commonsense”. (Maddox faz notar que, para Joyce, a linguagem era de extrema importância e tinha uma função paralela à do sexo). Mas a verdade é que esta é uma história extraordinária e só é de admirar que a sétima arte tenha demorado tanto tempo a apropriar-se dela. 

1928. Nora Barnacle Joyce. Photograph by Berenice Abbott.

(Photo: Commerce Graphics, Ltd.)

 

NORA, de Brenda Maddox, Minerva Editions, Great Britain, 1988

NOTA: pode visitar-se o site do filme em

http://us.imdb.com/Title?0158033

  

14 Juni 2003

Warum feiern wir nicht Mollysday?

Ohne sie hätte James Joyce die Frauen nie verstanden: Ein Besuch im Nora-Barnacle-Haus in Galway, Irland

von Regine Reinhardt

". ... und ich hab ja gesagt ja ich will Ja"

Das Ende des "Ulysses". Es sind die Worte von Molly Bloom, deren Ehemann Leopold Bloom die Leser einen Tag lang durch die Stadt Dublin begleiten konnten. Am Ende dieser Irrfahrt kehrt der wie Odysseus herumirrende Mann heim in den Schoß seiner Frau. Während ihn der Schlaf übermannt, hebt Molly an zu dem wohl berühmtesten Monolog in James Joyce' fast tausend Seiten langem Roman. 75 Seiten lang schaut sie auf ihr Leben zurück, in dem sie sich, wie der männliche Held und sein mythologisches Vorbild, von einem amourösen Abenteuer zum anderen hangelte.

Anders als der hadernde, sich immer wieder in Einwänden, (Selbst)-Vorwürfen und Erinnerungen verhaspelnde Leopold Bloom, redet Molly frei von der Leber weg, selbstbewusst und mit Gottvertrauen. Schließlich habe Er, Gott, sie so geschaffen, wie sie sei, mit all ihrer Verführbarkeit und Anziehungskraft, und da müsse er sich doch etwas dabei gedacht haben. Am Anfang und am Schluss ihrer Rede stehen ein groß geschriebenes "Ja". Das "Ja" gilt Leopold, den Molly allen anderen Freiern letztlich vorzieht, so wie Penelope ihren Odysseus. Gemeint ist aber auch eine Bejahung der menschlichen Dinge schlechthin. Wie gut nach so viel tragisch-komischem Scheitern und intellektueller Blasiertheit der Männer.

Jedes Jahr am 16. Juni, dem Tag, an dem der Ulysses spielt, treffen sich Joyce-Fans zu Lesungen aus diesem Jahrhundertroman, zu lang geprobten und zu spontanen. In Dublin pilgern sie mit ihren abgegriffenen Taschenbüchern des Ulysses zu jenen Orten, an denen der Held die Nierchen fürs Frühstück und Zitronenseife kaufte und sich zum Lunch ein Glas Burgunder und ein Gorgonzola-Sandwich genehmigte. Aber muss es am Bloomsday wirklich Dublin sein? Warum nicht einmal fernab der Großstädte: im westirischen Galway - der Geburtstadt von Joyce' Ehefrau Nora.

Joyce-Exegeten liefert das "Ja" der Molly das Hauptargument, wenn sie das Werk als letztlich doch positives Bild der Moderne deuten. Schließlich gibt es mit der vor Vitalität und Authentizität nur so strotzenden Molly eine wahrhaft positive Heldin -wie im richtigen Leben, das James Joyce 37 Jahre lang an der Seite von Nora Barnacle verlebte. Nora half Joyce, die Frauen zu verstehen. So konnte er seinen weiblichen Figuren Leben und Seele einhauchen und ihnen die Bodenständigkeit verleihen, die er selbst, ganz wie seine männlichen Helden, vermisste. Joyce scheint Nora geradezu vergöttert zu haben, glaubt man den vielen Briefen, die er zu Beginn ihrer beider Liebe und in den kurzen Phasen trennender Geschäftsreisen an seine "Carissima", seinen "little Butterfly", richtete. Einen solch zärtlichen Brief schreibt Joyce auch im Jahr 1909, als der Exilant auf seiner ersten Irlandreise Noras Mutter in Galway besucht, um ihr den Sohn Georgio vorzustellen.

Das Geburtshaus Noras steht noch: Bowling Green ist eine kleine Seitenstraße, die entgegen dem wohlklingenden Namen keinen einzigen Baum, kein Vorgartengrün aufweist. Das "Nora Barnacle House Museum" ist ein winzig kleines Reihenhaus mit zwei Etagen und zwei schmalen Fenstern. Die grau verputzte, dauerfeuchte Fassade wirkt nicht gerade einladend. Kürzlich haben Souvenirjäger die Granitplakette mit dem Museumsnamen abmontiert, so dass die wenigen Touristen, die sich hierher verirren, erst einmal am Haus vorbeilaufen. Auch in dem neun Quadratmeter kleinen Innenraum kommt keine Heimeligkeit auf. Dabei ist das einst offene Feuer einem veritablen Allesbrennerofen gewichen. Strom und Wasser gab es zu Noras Zeiten nicht. Anders als bei den vielen Herrenhäusern der anglo-irischen Oberschicht hat sich hier kein Inventar erhalten. Dessen mindere Qualität und täglicher Gebrauch ließen kein Überdauern zu. Aus der Nachbarschaft ist mittlerweile jedoch einiges zusammengetragen worden, was der originalen Einrichtung gleicht: Tisch, Stuhl, Bett, Wiege, eine Anrichte, ein wenig Geschirr, das aufs Allernötigste reduzierte Grundmobiliar einer vielköpfigen Familie. Seit 1987 ist das Haus ein privat betriebenes Museum. Als Bruchbude, lange vor dem irischen Immobilienboom, kauften es die Schwestern Sheila und Mary Gallagher, die sich mit einer Museumskuratorin die Arbeit teilen.

Wenn Sheila die Besucher mit einem ansteckenden Lachen empfängt, entschuldigt sie sich für die Kälte im Raum, sie habe den Ofen gerade erst angeheizt. Die Schilderungen des Bestsellerautors Frank McCourt von der ewigen Feuchtigkeit seiner irischen Kindheit kommen einem in den Sinn. Ob die Barnacles zu dem oberen, nur etwas wärmeren Stockwerk wie die McCourts "Italien" sagten, wenn das Parterre wieder einmal überschwemmt war? Der Bruder von Nora hat unten geschlafen, die weiblichen Familienmitglieder in den zwei Betten oben. Insgesamt waren es wohl fünf Schwestern, die Angaben variieren. So war Mutter Barnacle froh, dass Nora zeitweise bei der Großmutter wohnte. Anders als bei den McCourts hat es Noras Mutter geschafft, den alkoholsüchtigen Vater aus der Familie und Stadt zu verbannen, nachdem dieser seine Bäckerei in den Ruin getrieben hatte. Mit häuslicher Näharbeit hielt sie die Familie über Wasser. Ein wohlhabender Bruder unterstützte sie finanziell. Dieser Onkel von Nora war es allerdings auch, dessen erzieherische Strenge und harten Schläge die 20-Jährige 1904 nach Dublin ausreißen ließen. Hier knüpft Joyce an, als er bei seinem Besuch bei der Mutter an "my little run-away Nora", an die "kleine Ausreißerin", schreibt. Eine Kopie des Briefes hängt neben vielen Porträtfotos im Museum. Joyce schildert darin, wie er bei der Mutter am Feuer gesessen und ihren Geschichten von Noras Kindheit gelauscht hat. In den Worten habe er Noras Erzählungen wiederentdeckt und sei tief berührt von der Anmut einer einfachen Seele: "Wer weiß, Liebling, vielleicht kommen Du und ich nächstes Jahr zusammen hierher. Du wirst mich führen von Ort zu Ort, und das Bild Deiner Mädchenzeit wird mein Leben wieder läutern." "You purify my life" liest Sheila so hinreißend, dass man das glauben möchte und Joyce nicht mehr als der zynische Intellektuelle, sondern ehrlicher Bewunderer ungekünstelter Lebensweise erscheint.

Joyce ist gespalten. Einerseits ist er angezogen von Noras Aufrichtigkeit und Direktheit, mit der sie ihr Begehren äußert und das ihm hilft, seine eigene Schüchternheit und Ängste zu überwinden. Anderseits fürchtet er, dieser vitalen Frau nicht gerecht werden zu können und in seiner eigenen, irisch-katholischen Verklemmtheit verfangen zu bleiben. Er ist zwanghaft eifersüchtig und beschuldigt Nora oft und zu Unrecht. Tatsächlich steht Nora mehrfach kurz vor der Trennung. Sie ist die Armut und den Alkoholismus ihres Mannes leid.

Joyces intellektuelle Freunde hatten ihm von Nora abgeraten, die für ihren lockeren Umgang mit Männern bekannt gewesen sei. Aber gerade die Unabhängigkeit Noras von der öffentlichen Meinung fasziniert Joyce. Hier findet er Eigenschaften, die er seiner Romanfigur Molly verleiht, um sie gegen all die Repräsentanten der Kirche, der intellektuellen Wortführer und der (Kolonial-)Macht auszuspielen, die das Dublin des "Ulysses" bevölkern. Molly wird so zum Synonym eines wirklich guten, authentischen Irland, wie es Joyce im Westen des Landes vorfindet. Nicht zufällig verbringt die gesamte Familie im Jahr 1912 ihren einzigen Irlandurlaub in Galway und auf den benachbarten Aran-Inseln. Fast begeistert schwärmt Joyce von Galways "italienischen Reminiszenzen" und von dem ursprünglichen Leben auf den Inseln.

Nicht nur die Geschichten, die Noras Leben schrieb, beeindruckten Joyce. Wenn er Noras unverblümte Redeweise und den freien Umgang mit Orthographie und Grammatik ihrer Briefe imitierte, sind das viel unmittelbarere Spuren in seinem Werk. Mollys gesamter Monolog ist gesprochene Sprache ohne Interpunktionen, die am verständlichsten ist, wenn sie laut gelesen und gehört wird.

So schallen Mollys Worte denn auch durch das Bowling Green. Und wo sich heute noch jeder so kennt wie zu Noras Zeiten und die Anwohner regen Anteil an den Aktivitäten des Museums nehmen, tauscht man vor allem Geschichten. Die werden dann in dem Newsletter des Museums festgehalten. Etwa jene von Jimmy Mannion, einem Nachbarn, der das Schieferdach reparierte, oder von der Familie Burke, die das Hochzeitsporzellan einer Vorfahrin und Zeitgenossin von Nora spendete. Auch die Erinnerungen der Nachbarn an die Barnacles schreiben die Museumsfrauen auf. Wenn Sheila dann die Liebesgeschichte von Joyce und Nora erzählen, klingt es so, als hätte sie sich vor ihren eigenen Augen abgespielt.

In Dublin arbeitete Nora als Zimmermädchen in "Finns Hotel", einer eher schäbigen Pension, als Joyce sie im Jahr 1904 auf offener Straße anspricht. Nur vier Monate später brechen sie gemeinsam zum europäischen Festland auf. Und das ohne Trauschein, im katholischen Irland bis heute eine schlimme Sünde, wie Sheila augenzwinkernd versichert. Dem bohemienhaften Autor traut man das gerade noch zu, aber die Kühnheit der irischen Provinzlerin hat alle verblüfft.

Wenn Joyce seinen "Ulysses" ausgerechnet am 16. Juni 1904, dem Tage der ersten intimen Begegnung von James und Nora, spielen lässt, ist dies nicht nur ein weiterer Beweis der Bedeutung Noras für diesen Jahrhundertroman. Als Seitenhieb gegen die gesellschaftliche und kirchliche Moral, markierte Joyce hiermit den für ihn geltenden eigentlichen Hochzeitstag. Standesamtlich geheiratet wurde erst Jahre später, 1931, als der inzwischen erwachsene Sohn heiraten wollte und die Eltern der Braut die Einwilligung davon abhängig machten, dass auch Nora und James legitime Eheleute sind. Ein richtiges Hochzeitsfoto existiert nicht. Nur eines auf Londons Straßen, als Nora und Joyce mit den Trauzeugen vom Standesamt kommen. Joyce' krause Stirn verrät keine Begeisterung, während Noras Stolz vor allem der eigens angeschafften Garderobe gilt. Den Pelz mondän geschultert, nimmt man der armen Provinzlerin die Dame von Welt ab, die Joyce ihr immer wieder in Aussicht stellte und die zu werden sein später Erfolg ihr tatsächlich ermöglichte.

Literaturforscher verbringen ihre Zeit damit, die Parallelen zwischen Joyce' Werk und Leben aufzuspüren. Denn Damen vom Museum kann das nur recht sein. Die Zuflucht, die Molly Leopold Bloom bietet, gewährt das Nora Barnacle House dem Leser. Mit Molly kann er sich der Figur des "Ulysses" nähern, die am ungebrochensten die Misere des modernen Lebens spürt und als einzige meistert. Den Lesern beschert dies einen sanften Einstieg in ein schwieriges Buch. So macht es gar nichts, den "Ulysses" hinten anzufangen und, am besten bei einem Guinness, dem Molly-Monolog zu lauschen, vielleicht sogar im Bowling Green am Blooms-, pardon, Mollysday.

Der Bloomsday

Jedes Jahr am 16. Juni, dem Tag, an dem Hauptfigur Leopold Bloom im "Ulysses" durch Dublin irrt, feiern James-Joyce-Fans in aller Welt mit Lesungen und Festen den Bloomsday. Eine Auswahl:

Die Kunststiftung poll (Tel. 78714719, www.berlin-bloomsday.com) in Berlin zeigt in Zusammenarbeit mit der Zürcher James Joyce Gesellschaft vom 16. bis 21. Juni eine Ausstellung mit Lesungen und Vorträgen, unter anderem mit dem irischen Kulturattachée Seán ÓRiain und unserer Autorin, der Kunsthistorikerin Regine Reinhardt.

In Lüneburg liest am 16. Juni der Schauspieler Thomas Ney aus dem "Ulysses" (PONS, 20 Uhr).

New York feiert zum Beispiel "Bloomsday on Broadway" und zelebriert den "Joyce of cooking" am Kochtopf (joycesociety.org).

Und im Zentrum des Geschehens, Dublin, veranstaltet das James Joyce Centre rund um den 16. das "Bloomsday festival", inklusive Freiluft-Frühstück, Theater, Musik und viel Ale (www.jamesjoyce.ie).

Artikel erschienen am 14. Jun 2003